sábado, 26 de fevereiro de 2011

De volta às passeatas - A Guerra

Depois de um interregno, voltei à exploração desta enorme e dinâmica cidade que é Londres. Mesmo num dia chuvoso como o de hoje, o sentimento de descobrir mais um bocadinho da cidade é entusiasmante e o passeio agradável.

Desta vez, o alvo foi o Imperial War Museum, um museu que já há algum tempo figurava na minha lista mental de coisas a ver, e que, tal como todos os museus principais Londres, é enorme. E gratuito! Algo que ainda não me habituei e que me faz muita impressão.

Os trabalhos de reparação das linhas do metro fizeram com que tivesse de parar em Waterloo e andar uns 7 min até ao museu, o que deu para explorar uma zona da cidade que não me é muito familiar - Southbank. É uma zona até agradável mas nota-se diferença em relação à margem norte do Tamisa, onde é o centro da cidade.

Quanto ao museu... Foi muito provavelmente o que achei mais interessante até agora. À primeira vista não seria, já que museu da guerra faz logo pensar em exposição de aviões, tanques, armas, etc., que me dizem pouco. Mas o facto é que já aprendi a não subestimar as gerências dos museus londrinos. Ir a qualquer museu em Londres é ser imerso numa experiência que envolve todos os sentidos. Os organizadores dos museus fazem um enorme esforço (bem sucedido) por tornar a experiência do visitante o mais interativa, envolvente e interessante possível. Isso faz com que até exposições de áreas menos interessantes (no meu caso, design ou pintura) se tornem entusiasmantes e nos acabem por ensinar qualquer coisa. E essa, para mim, é a principal função de um museu - ensinar.

Não admira, pois, que os museus cá estejam cheios de crianças, não só em visitas de estudo mas especialmente acompanhadas pelos pais. É frequente estar a ler a legenda de um objeto ou fotografia num museu e ouvir um pai ao lado a tentar explicar ao filho o que aquilo representa. Hoje isso aconteceu na exposição sobre o Holocausto. Uma menina que não devia ter mais de oito anos fez a seguinte observação 'Mummy, he [Hitler] just wanted to kill everyone, didn't he?'. O que eu achei extremamente bem observado. :)

O Imperial War Museum é ultra-educativo. É a melhor sala de aula sobre história do século XX que podia haver. Tem duas galerias principais sobre as duas guerras mundiais, e que contam a história dos complexos conflitos através de salas temáticas, o que facilita muito a organização das ideias. E os objetos em exposição! São eles a razão por que acho este museu a melhor sala de aula de história. Vitrines e vitrines de uniformes das diferentes guerras e países, cartas dos soldados às famílias, páginas de diários de quem combateu nas trincheiras, cartazes e mais cartazes de propaganda que são a melhor maneira de ilustrar como a sociedade inteira era mobilizada para o esforço de guerra. Tudo o resto era secundário. Uma vez que a Grã-Bretanha teve um papel crucial nas duas grandes guerras, toda essa experiência está bem explícita naquelas galerias.

Uma das exposições temporárias era a 2ª Guerra Mundial sob a perspetiva das crianças. Documenta a experiência do milhão de crianças que foram evacuadas de Londres após o início da guerra. Uma grande variedade de objetos pessoais, cartazes de propaganda, testemunhos de quem era criança na altura e foi enviado para casa de pais adotivos, recriação de uma sala de aula dos anos 40, recriação de uma casa (uma casa!) da altura, onde podemos circular pela mesma, espreitar os quartos, descer as escadas até à cozinha e sair pela porta, tudo isto torna os factos que estão a tentar transmitir extremamente reais e palpáveis. É possível caminhar por uma trincheira e ter uma noção do que os soldados deveriam sentir (incluindo os cheiros!)

A outra exposição temporária, e a principal razão pela qual eu queria visitar este museu, foi sobre o holocausto. Não foi uma experiência agradável, como é suposto não ser. Mais uma vez, testemunhos tanto em forma de vídeo como de escrita e audição abundavam, o que tornou todos os factos da exposição bem mais tangíveis. De forma clara e inteligível, mas sem ser simplista, a exposição conseguiu transmitir perfeitamente as razões, os factos, as causas e os acontecimentos que fazem parte do tenebroso e indiscritível holocausto. Mais uma vez, a divisão em galerias temáticas, ordenadas cronologicamente, facilitou muito a compreensão deste fenómeno. Compreensão... A palavra certa aqui é incredulidade. Não é possível compreender o que leva uma nação inteira a cometer e deixar cometer tais atrocidades sistemáticas. Respeito e temor pelas dimensões até onde pode ir a mente e o engenho humano foi o que esta exposição me trouxe.

É um museu imperdível. Aconselhável a toda a gente, ao contrário do que eu inicialmente pensava. Porque explica os principais acontecimentos da história recente de forma muito clara mas profunda, de vários ângulos e através de muita ajuda visual, auditiva e sensorial. É uma maravilha explorar a forma detalhada com que aquele museu foi pensado. Por isso, potenciais visitantes de Londres, se tiverem de escolher, esqueçam os museus naturais ou da ciência, bem mais famosos mas mais temáticos (e na minha opinião, menos interessantes) e visitem o Imperial War Museum. É uma experiência inesquecível e iluminadora e uma prova magnífica de um país que se preocupa seriamente com a sua cultura e história.





S. 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dissertação: check

Afinal escolher o tema da dissertação final foi muito simples.

Dissertações/teses de mestrado sempre foram alvo de muita curiosidade por minha parte mas também muito respeito. Afinal, é preciso alguma dose de coragem para:

1. Escrever 30 000 palavras sobre uma investigação original da nossa autoria;

2. Defender essa mesma investigação numa audição pública, perante um júri e quem mais quiser aparecer.

Mas isto são as teses dos mestrados portugueses. Um Master britânico tem duas diferenças muito significativas, e que tornam todo o processo de imaginar, investigar e escrever uma tese muito menos assustador:

1. São apenas 10 000 palavras (isso é pouco mais do dobro de um essay final; já fiz 3 por isso já cobri o espetro da dissertação :) )

2. Não há defesa da dissertação, apenas entrega e avaliação normal.

Sim, este último ponto só o descobri quando já estava em aulas de mestrado cá e fiquei estupefacta. Não há defesa da dissertação?! Ora, isso tira o pânico todo à coisa. E 10 000 palavras, vamos ser sinceros, é pouco. Para mim é perfeito, nunca consegui meter 'palha' nos testes nem nos trabalhos. Dissertação = 2 essays para mim é perfeito.

A semana passada todos os alunos de European Studies receberam um e-mail do departamento com a tão temida ficha para preencher com o título da dissertação final. Nervosismo e algum pânico verificou-se. Desta vez, e ao contrário dos essays do 1º semestre, não participei nesse pânico.

A minha ideia para tópico de dissertação final tem-se mantido sempre a mesma desde que me inscrevi na King's. Durante o verão, sob a perspetiva de ir estudar num ambiente diferente, numa universidade mais exigente, fartei-me de ler livros sobre a União Europeia, para não entrar no curso sem base nenhuma. Ao mesmo tempo ía tentando perceber qual a área, dentro da UE, que mais me dizia. Foi enquanto lia um livro sobre o Médio Oriente que me surgiu a ideia: direitos das mulheres. Que direitos das mulheres seja algo flagrante quando lemos algo sobre o Médio Oriente não é de estranhar, mas e então onde fica a UE no meio desse tema?

Sempre tive a ideia de que a UE tinha uma preocupação peculiar com a igualdade de géneros. Ou melhor, desde sempre, não. Tenho uma vívida recordação da presidência portuguesa da UE em 2007, muito devido à assinatura do Tratado de Lisboa (nesse dia ninguém pagou transportes em Lisboa! E os autocarros da carris andavam com duas bandeirinhas, da UE e de Portugal x) ). Mas em especial lembro-me de me vir parar às mãos um CD pequenino que continha as prioridades da presidência portuguesa e onde se destacava a igualdade de géneros. E lembro-me de ter ficado surpreendida. E de ter achado um máximo.

Porque quando pensamos em direitos das mulheres pensamos em países árabes, terceiro mundo, etc. É bem mais flagrante a sua violação nesses países. Sem dúvida alguma. Mas a Europa... A Europa ainda tem um percurso longo a percorrer. Ainda existem falhas. Verdade seja dita, as mulheres nunca viveram uma época tão cheia de oportunidades como a minha geração o tem. Mas a igualdade de géneros ainda não é uma realidade. Mais oportunidades para as mulheres significa mais dificuldades, entraves e discriminação. É muito fácil ser mulher num mundo onde a única verdadeira e aceitável hipótese é ser dona de casa e ter filhos. Educação e mercado de trabalho abertos significa potenciais (e reais!) discriminações e obstáculos. É uma área à qual sou muito sensível, toca-me e choca-me como poucas conseguem verdadeiramente fazer. É por isso que só faz sentido que a minha dissertação seja sobre esse tema.

A especificidade tem de ser maior, mas essa será decidida enquanto faço a leituras de investigação sobre o tema. Possíveis tópicos podem ser a evolução da legislação sobre igualdade de géneros, a importância do Tribunal de Justiça Europeu, etc. A professora a quem pedi opinião sobre o tema aconselhou-me a entrevistar as deputadas do Comité dos Direitos das Mulheres do Parlamento Europeu. Disse que iriam ficar encantadas por eu estar a fazer dissertação sobre isso. Não consigo deixar de rir quando penso nisto, um risinho nervoso, porque iria ser tão espetacular mas... sou tão aluna. Mete-me impressão que aquela gente se sentisse minimamente disponível para entrevistas para a minha humilde dissertação :D.

É uma área onde, talvez como mais nenhuma, me vejo a construir uma carreira. Em qualquer instituição, em qualquer país, em qualquer setor do mercado de trabalho. Claro que a minha ambição é a Comissão. Mas penso que seria feliz se pudesse ter um emprego onde o meu trabalho fizesse a diferença nessa área.

Por isso é com um coração muito leve que vou preencher a ficha com o título da minha dissertação.

'How effective has the European Union been in promoting and achieving gender equality'.




S.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Chá da Pérsia, Chá da Índia, Chá Chinês

A minha bebida preferida sempre foi o chá. Há cerca de 10 anos descobri que o chá tinha propriedades desintoxicantes e que chá verde era muito bom para combater a celulite (adolescência, meus amigos...) e decidi começar a bebê-lo religiosamente. No verão, quando se tornava desconfortável beber uma bebida tão quente, chegava a guardar o chá numa garrafa e pô-lo no frigorífico, para beber mais tarde. Resultou? Hmm, talvez um pouco. A frequência e a duração teriam de ter sido maiores para poder ter a certeza. No entanto, uma coisa é certa: um gosto enorme por chá desenvolveu-se.

Já provei de tudo um pouco, verde, vermelho, preto, branco, camomila, tília, cidreira, limão, eucalipto, carquejeira, barbas de milho, ananás (uma porcaria), etc, etc. O meu preferido é sem dúvida o vermelho, se bem que seja um pouco mais difícil de encontrar.

Claro que na minha vinda para cá havia a expetativa de encontrar novas e muitas variedades de chá. Afinal, esta é a terra onde o chá é uma grande tradição (iniciada por uma princesa portuguesa, não esquecer :) ). Uma das minhas primeiras memórias de cá envolve o D. à minha espera no aeroporto com um copo de chá pronto a ser ingerido :). Com leite, claro está.

Isto para dizer que uma das minhas primeiras preocupações quando comecei a abastecer a casa com comida foi escolher o chá ideal. Decidi-me pelo Earl Grey Twinings, talvez o mais normal e mais tradicional de cá. Para ser bebido com leite, que dá ao chá um sabor mais soft e reconforta melhor a barriga depois de bebido.

Isto não me impediu de experimentar outras variedades, não quando tenho a famosa loja da Twinnings a dois minutos da minha faculdade.



É uma loja adorável, antiga, com uma atmosfera muito British e com prateleiras e prateleiras de chás de todas as qualidades (menos vermelho, though :/ ).


E o melhor é que vende saquinhos de chá individuais, a 15p, ótimo para experimentar novos sabores sem corrermos o risco de gastar dinheiro numa caixa inteira que não vamos usar. Há uns meses trouxe 6 diferentes, e guardei as saquetas dos que mais gostei e eventuais candidatos a compra de uma caixa inteira.



No entanto, quando a caixa dos Earl Greys acabou, decidi-me por uma caixa de vários chás de camomila, também da Twinings, que encontrei no Asda. Boa decisão, já que me diverti imenso a ver uma das variedades a tornar a água roxa, e com o leite ficar uma cor lilás muito bonita, mas estranha numa bebida (o chá era bom mesmo assim).

Hoje a caminho da biblioteca decidi entrar na Twinings e dar uma vista de olhos. Encontrei (finalmente!) o chá que ando há anos à procura: jasmim. Esta obsessão pelo chá de jasmim vem de uma das memórias que tenho da escola primária. Numa aula que tivemos sobre Macau no 4º ano, a professora levou chá de jasmim para fazer na aula. Picuinhas na comida como eu era (sou?) entrei em pânico interno. Só pensava 'Chá? Bleurgh...' (nunca tinha provado). 'Não vou conseguir beber e todos vão gozar e a professora vai ficar triste comigo'. O meu enorme espanto quando provei e comecei a gostar. Parecia gelatina líquida quente! Tinha o aspecto de gelatina líquida... E era de jasmim.

De forma que hoje, quando me deparei com o Twinings Jasmin Earl Grey (Limited Edition) um sorriso enorme se espalhou pelo meu rosto e claro que tive de trazer uma caixa.

 

Sabe demasiado ao Earl Grey normal, o aroma de jasmim não é reconhecível no chá com leite. A desvantagem do chá com leite é exatamente essa: amacia o sabor do chá e portanto torna impercetíveis sabores que são apenas aromatizantes. Neste caso, o chá não é realmente de jasmim, é antes Earl Grey com sabor a jasmim, daí que seja preciso experimentar sem o leite. Meu erro.



Para a próxima terei de experimentar chás novos sem adicionar leite, para conseguir provar o verdadeiro sabor, tal como fiz com as 6 saquetas que comprei na primeira visita à Twinings.

Têm algum chá preferido? Com ou sem leite? :)



S.

The gods have gone mad



Este tem sido o tempo que faz em Londres nos últimos dias. Até hoje, quando começou a chover (e continua).

Mesmo assim foi um espanto muito grande. Na terça-feira não se via uma nuvem no céu, vim a viagem toda de metro até casa com os olhos pregados naquele céu azul maravilhoso (o metro viaja à superfície grande parte do percurso de casa à universidade). Londres estava com um brilho muito raro, tudo parecia mais iluminado e mais claro.

Outra nota positiva é o fato de não ligar o aquecedor há mais de uma semana. Um dos benefícios de viver num estúdio é a facilidade com que se aquece a divisão, especialmente se for uma construção bem isolada. Assim que a temperatura sobe acima dos 7/8 graus já não há necessidade de aquecedor. Ainda para mais se o sol bater na divisão toda a manhã :) . O edredão de inverno já se vai tornando insuportável, o que é aborrecido uma vez que ainda não existem edredões mais frescos à venda :/ 

Um sol que não é antecipado torna-se sempre numa surpresa agradável. A minha mentalidade em relação ao tempo cá tem sido sempre que está muito frio, toca a vestir de acordo. É Londres, chove muito, se não chove está encoberto, sol nem vê-lo. E não me incomoda nada. Por isso, tudo o que vier para além disto é para mim uma boa surpresa :).



S.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Frutos da floresta

Consta que o post da nossa ceia de Natal foi bastante popular. Como tenho vindo a descobrir que gosto muito de cozinhar, acho por bem explorar este tema e dar ao blog um gostinho diferente.

Salada de fruta não é o que se possa chamar de grande cozinhado. Nem sequer é cozinhado... Mas é comida e portanto cabe no grupo das 'receitas'.

Hoje enquanto fazia as compras semanais no Asda os morangos saltaram-me à vista e decidi trazer para experimentar se fruta artificialmente produzida também pode ser boa. Sim, ainda não estamos no verão, a época dos morangos ainda não chegou. Mas estes gestores de lojas não parecem se importar muito com o que é de época e o que não é, portanto não me devia espantar que morangos já apareçam nas prateleiras do Asda.

Se pensar bem, estou a ser um bocado hipócrita... Todas as semanas desde o natal que traga um saquinho de castanhas para assarmos no forno. Ora, hoje passei ao pé da caixa das ditas cujas e reparei - com grande aflição devo acrescentar - que já só havia dois saquinhos. O meu primeiro pensamento foi 'Oh meu deus, as castanhas estão a acabar!'. O que, continuando a conversa das épocas, faz sentido. O segundo pensamento foi 'Oh meu deus, se já só há dois sacos é porque não repuseram castanhas e se não repuseram castanhas é muito provável que já não vendam mais porque as castanhas são coisa de outono!'. Num gesto de desespero agarrei nos dois saquinhos que restavam e meti-os no carrinho. Continuei as compras tentando manter a dignidade.

Portanto se ainda ando a comer castanhas devia-me calar com a conversa do que é de época e não sei quê.

Continuando a história da salada de fruta. Trouxe os morangos e a seguir deparei-me com um saquinho pequenino de blueberries, ou mirtilhos. Decidi trazer também. Um dos lados positivos de viver noutro país deve ser experimentar tudo (ou quase tudo, vá) do que há de diferente. Sei que mirtilhos é algo que existe nos supermercados portugueses. Mas não é uma fruta normal, ao passo que aqui há iogurte de blueberry, sumo de blueberry, água de blueberry, etc. Morangos com blueberry, uma salada de fruta original :)



 

Os blueberries não são muito bons... Valeu pela experiência. E ficou com um aspecto tão 'frutos do bosque' :D. Para a próxima serão raspberries (framboesas).



S.